segunda-feira, 10 de setembro de 2018

(Meia) Travessia da Serra Fina, 06 a 09 de setembro de 2018

Esse ano, logo depois que voltei do Chile, em um papo sobre trilhas nacionais com o Lenon, amigo mochileiro e trilheiro de SP, fui inserida em um grupo no whatsapp de Trekking em São Paulo. Não demorou até eu comprar as passagens planejando fazer a Travessia da Serra Fina no feriado de 06 a 09 de setembro. 
Para quem não sabe, conforme o wikipedia, "a Serra Fina é uma seção da serra da Mantiqueira, por sua vez uma das mais importantes cadeias de montanhas do Brasil. Coincide em grande parte com o Maciço Alcalino de Passa Quatro e situa-se em sua quase totalidade na divisa entre os estados de Minas Gerais (município de Passa Quatro, com uma área muito pequena no município de Itanhandu) e São Paulo (municípios de Lavrinhas e Queluz), mas sua extremidade leste também alcança o estado do Rio de Janeiro (município de Resende). (...) A Serra Fina tem um dos maiores desníveis topográficos do território brasileiro (mais de 2.200 m do topo da Pedra da Mina à base da serra no lado paulista, no Vale do Paraíba) e a quarta mais alta montanha do Brasil: a Pedra da Mina (2 798 m). Na extremidade leste da Serra Fina, também se destaca o pico dos Três Estados (2 665 m), em cujo topo está o ponto tríplice onde se unem as divisas dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro".

Dias antes da viagem, eu comprei comida (biscoito, cookies, chocolate, especialmente o snickers, bananada que eu costumo consumir antes das corridas, queijo polenghi, salame e pão), pedi pro Lenon comprar em SP duas massas semi-prontas da fugini que não encontrei aqui em PE. 

Na mochila foram os seguintes itens:
  1. Saco de dormir -5º 
  2. Isolante térmico Auto-inflável 
  3. Travesseiro Inflável 
  4. Headlamp e pilhas extra
  5. Lanterna
  6. Canivete
  7. Isqueiro
  8. Fogareiro compacto (o cartucho de gás eu não levei por não ser permitido no vôo mesmo despachando a mala, então combinei de dividir o cartucho com o pessoal)
  9. 1 squeeze e uma hidrabag de 2 litros
  10. Panela, copo, talher, prato plástico e guardanapo
  11. Comida, lanches e café (!) 
  12. 1 par de luvas
  13. 1 jaqueta corta-vento
  14. 1 jaqueta de pluma
  15. 1 touca 
  16. 3 bandanas multiuso
  17. 1 viseira
  18. Par de Bastões
  19. Bota
  20. Sandália havaianas
  21. Óculos escuro
  22. Lentes de contato + óculos de grau
  23. 3 calças legging
  24. 1 camisa manga curta e mais 3 manga longa
  25. 2 pares de meias de trekking (sem algodão) + 2 pares de meias comuns
  26. Roupa íntima + top esportivo
  27. Pacote de Lenços umedecidos
  28. Papel higiênico
  29. Remédios 
  30. Protetor solar 


Larguei do trabalho às 12h do dia 06 de setembro, passei em casa, tomei um banho, almoçei, coloquei a mochila nas costas e segui para o aeroporto. Cerca de 19h30 cheguei em São Paulo, e logo o Lenon, o Will e o Andy apareceram no aeroporto. De carro seguimos para Lorena para buscar o João. Era cerca de 3h00 chegamos em Passa Quatro/MG onde pegamos nosso resgate para nos deixar na Toca do Lobo. 

Nesse primeiro dia de trilha (sexta, dia 07), começamos a caminhar aproximadamente às 4h. Na Toca do Lobo abastecemos nossas garrafas e seguimos 6,5km até o Capim Amarelo. Pela primeira vez na vida achei que fosse morrer, mas como sobrevivi apenas constatei que meu cardiorespiratório é um lixo, mesmo malhando, correndo e fazendo outras trilhas, ter encarado aquela subida do Capim Amarelo (2.491m) com uma mochila de aproximadamente 14kg nas costas foi a coisa mais difícil que fiz na vida (até aquele dia, pois o Paiolinho logo superaria esse marco). Minha pressão caiu duas vezes durante a subida, fiquei tremendo, sem conseguir dar um passo achando que ia desmaiar. O meninos ajudaram bastante, pegaram algumas coisas da minha mochila e distribuíram o peso entre eles, mas a sensação de estar atrasando o ritmo deles só me deixava mais mal. Forcei-me a comer alguma coisa para pressão estabilizar, melhorei um pouco e perto de meio-dia alcançamos o cume do Capim Amarelo. Mas ainda teria pela frente uma descida penosa e escorregadia dentre bambuzais, onde caí 3 vezes (duas vezes com o joelho direito para trás e a perna esquerda para frente, e só Deus sabe como não quebrei ou torci nada). 




Caminhamos mais 6,0km chegando na base da Pedra da Mina (2.440m) perto das 17h30, local próximo a uma fonte de água. Eu estava exausta, há quase 48h sem dormir, já tinha chorado, desesperado, achado que ia morrer, e mal conseguia dar um passo. No último km até o acampamento o Will carregou minha mochila. Montamos acampamento, preparamos uma janta rápida arroz com bacon e linguiça, uma das coisas mais deliciosas que já comi na vida, e perto das 19h todo mundo capotou. Nessa primeira noite fez cerca de -7°C, e amanhecemos com gelo sobre as barracas. 



No segundo dia (sábado, dia 08), acordamos pouco antes do sol nascer, tomamos café da manhã, fechamos acampamento e em torno das 9h iniciamos a subida ao Cume da Pedra da Mina (2.798m). Antes do meio-dia alcançamos o cume, ou seja, metade da Travessia da Serra Fina. Desnível pesado e mais uma vez sofrido. Eu e mais dois do grupo estávamos bem cansados, e ficou decidido abortar a outra metade. Ficaríamos ali na Pedra da Mina para curtir o pôr do Sol e o amanhecer e desceríamos no outro dia pelo Paiolinho. Montamos acampamento, lanchamos, e descemos ao Vale do Ruah (2.514m) para buscar água. 











Se a subida é pesada, a descida segue a mesma vibe, sendo que a descida da Pedra da Mina é na rocha, o que  exige mais atenção e esforço para não escorregar e cair montanha abaixo. O Vale do Ruah é formado por um capim alto e terreno de charco, e é preciso cuidado para não se perder dentro do labirinto de capim. Enchemos nossas garrafas e retornamos para Pedra da Mina, para apreciar o pôr do Sol. E que pôr do Sol! Foi gratificante estar ali depois de tanta dor e superação, apenas agradeci a Deus pela vida e por aquela oportunidade. 






À noite preparamos nosso jantar, juntamos um pouco do que cada um trouxe, fizemos uma misturada e comemos sob o céu infinitamente lindo e estrelado. Com o forte vento e frio que fazia, cerca de 20h fui deitar, isso mesmo, só 'deitar', porque praticamente não dormi a noite toda com o forte vento que fazia e estremecia toda barraca. 

Acordamos cedinho no terceiro dia (domingo, dia 09), para apreciar o nascer do Sol, um presente de Deus, um novo dia, uma nova oportunidade, uma benção. Fechamos acampamento, tomamos café e iniciamos nossa descida pelo Paiolinho. Eu posso falar qualquer coisa aqui, e vocês não vão ter ideia da dificuldade e sufoco nessa descida. Pouco mais de 8km de descida, desnível de aproximadamente 1.197m, num misto de paredões de pedras e mais quedas e escorregões. Ainda me perdi numa bifurcação, mas retornei o percurso e achei a trilha novamente. Fui ferroada por uma abelha, e ainda caí por cima da mão e cortei o dedo, mas continuei firme e forte, a expectativa já era sem tamanho para tomar uma cerveja e almoçar feijão. 










Conforme é possível imaginar, quando chegamos no final da trilha pelo Paiolinho, no local de resgate, estávamos sedentos por comida e bebida, então, eis que um rapaz de outro grupo de SP, o Giba, tirou da mala do carro umas cervejas ainda frias e melhor do que isso, nos ofereceu. Nunca uma cerveja desceu tão redonda na história do trekking. 





O resgate demorou cerca de 40 min para nos buscar, seguimos para Passa Quatro/MG, pegamos o carro era cerca de 15h, matamos quem estava nos matando (a fome) e seguimos para São Paulo. O trânsito quase me infarta, pois tinha de estar no aeroporto às 23h, mas os meninos conseguiram a proeza de chegarmos às 22h no aeroporto. 




Resumo da Meia Travessia da Serra Fina:
Tempo Médio de Caminhada/dia: 10,5 horas
Distância Total: 28km
Desnível Vertical Acumulado: 2031m
https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/meia-serra-fina-28482214

Os desníveis são constantes, infinitas subidas e descidas, além das escalaminhadas em rochas íngremes, e tudo isso com mochila pesada nas costas, haja vista a necessidade de carregar água por longos trechos. Além do calor e sol forte durante o dia, e frio intenso a noite. É uma travessia difícil, muito difícil, que requer excelente cardiorespiratório, força nas pernas e intimidade com mochila cargueira pesada. 

No fim de tudo, só me restou infinita gratidão pela experiência, até o sofrimento deu mais cor e beleza a tudo. Os meninos do Trekking SP, Lenon, Will, Andy e João foram incríveis comigo, e só tenho a agradecer a eles pela paciência e força. 

Um comentário:

  1. Só tenho a dizer que tu é muito guerreira Fabi, determinada e forte pois você passou eu descendo o paiolinho a todo vapor focada. Gratidão por tudo, valeu pela vibe positiva sua e do grupo trakking SP. Até a próxima.

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