Esse ano, logo depois que voltei do Chile, em um papo sobre trilhas nacionais com o Lenon, amigo mochileiro e trilheiro de SP, fui inserida em um grupo no whatsapp de Trekking em São Paulo. Não demorou até eu comprar as passagens planejando fazer a Travessia da Serra Fina no feriado de 06 a 09 de setembro.
Para quem não sabe, conforme o wikipedia, "a Serra Fina é uma seção da serra da Mantiqueira, por sua vez uma das mais importantes cadeias de montanhas do Brasil. Coincide em grande parte com o Maciço Alcalino de Passa Quatro e situa-se em sua quase totalidade na divisa entre os estados de Minas Gerais (municÃpio de Passa Quatro, com uma área muito pequena no municÃpio de Itanhandu) e São Paulo (municÃpios de Lavrinhas e Queluz), mas sua extremidade leste também alcança o estado do Rio de Janeiro (municÃpio de Resende). (...) A Serra Fina tem um dos maiores desnÃveis topográficos do território brasileiro (mais de 2.200 m do topo da Pedra da Mina à base da serra no lado paulista, no Vale do ParaÃba) e a quarta mais alta montanha do Brasil: a Pedra da Mina (2 798 m). Na extremidade leste da Serra Fina, também se destaca o pico dos Três Estados (2 665 m), em cujo topo está o ponto trÃplice onde se unem as divisas dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro".
Dias antes da viagem, eu comprei comida (biscoito, cookies, chocolate, especialmente o snickers, bananada que eu costumo consumir antes das corridas, queijo polenghi, salame e pão), pedi pro Lenon comprar em SP duas massas semi-prontas da fugini que não encontrei aqui em PE.
Dias antes da viagem, eu comprei comida (biscoito, cookies, chocolate, especialmente o snickers, bananada que eu costumo consumir antes das corridas, queijo polenghi, salame e pão), pedi pro Lenon comprar em SP duas massas semi-prontas da fugini que não encontrei aqui em PE.
Na mochila foram os seguintes itens:
- Saco de dormir -5º
- Isolante térmico Auto-inflável
- Travesseiro Inflável
- Headlamp e pilhas extra
- Lanterna
- Canivete
- Isqueiro
- Fogareiro compacto (o cartucho de gás eu não levei por não ser permitido no vôo mesmo despachando a mala, então combinei de dividir o cartucho com o pessoal)
- 1 squeeze e uma hidrabag de 2 litros
- Panela, copo, talher, prato plástico e guardanapo
- Comida, lanches e café (!)
- 1 par de luvas
- 1 jaqueta corta-vento
- 1 jaqueta de pluma
- 1 touca
- 3 bandanas multiuso
- 1 viseira
- Par de Bastões
- Bota
- Sandália havaianas
- Óculos escuro
- Lentes de contato + óculos de grau
- 3 calças legging
- 1 camisa manga curta e mais 3 manga longa
- 2 pares de meias de trekking (sem algodão) + 2 pares de meias comuns
- Roupa Ãntima + top esportivo
- Pacote de Lenços umedecidos
- Papel higiênico
- Remédios
- Protetor solar
Larguei do trabalho às 12h do dia 06 de setembro, passei em casa, tomei um banho, almoçei, coloquei a mochila nas costas e segui para o aeroporto. Cerca de 19h30 cheguei em São Paulo, e logo o Lenon, o Will e o Andy apareceram no aeroporto. De carro seguimos para Lorena para buscar o João. Era cerca de 3h00 chegamos em Passa Quatro/MG onde pegamos nosso resgate para nos deixar na Toca do Lobo.
Nesse primeiro dia de trilha (sexta, dia 07), começamos a caminhar aproximadamente à s 4h. Na Toca do Lobo abastecemos nossas garrafas e seguimos 6,5km até o Capim Amarelo. Pela primeira vez na vida achei que fosse morrer, mas como sobrevivi apenas constatei que meu cardiorespiratório é um lixo, mesmo malhando, correndo e fazendo outras trilhas, ter encarado aquela subida do Capim Amarelo (2.491m) com uma mochila de aproximadamente 14kg nas costas foi a coisa mais difÃcil que fiz na vida (até aquele dia, pois o Paiolinho logo superaria esse marco). Minha pressão caiu duas vezes durante a subida, fiquei tremendo, sem conseguir dar um passo achando que ia desmaiar. O meninos ajudaram bastante, pegaram algumas coisas da minha mochila e distribuÃram o peso entre eles, mas a sensação de estar atrasando o ritmo deles só me deixava mais mal. Forcei-me a comer alguma coisa para pressão estabilizar, melhorei um pouco e perto de meio-dia alcançamos o cume do Capim Amarelo. Mas ainda teria pela frente uma descida penosa e escorregadia dentre bambuzais, onde caà 3 vezes (duas vezes com o joelho direito para trás e a perna esquerda para frente, e só Deus sabe como não quebrei ou torci nada).
Caminhamos mais 6,0km chegando na base da Pedra da Mina (2.440m) perto das 17h30, local próximo a uma fonte de água. Eu estava exausta, há quase 48h sem dormir, já tinha chorado, desesperado, achado que ia morrer, e mal conseguia dar um passo. No último km até o acampamento o Will carregou minha mochila. Montamos acampamento, preparamos uma janta rápida arroz com bacon e linguiça, uma das coisas mais deliciosas que já comi na vida, e perto das 19h todo mundo capotou. Nessa primeira noite fez cerca de -7°C, e amanhecemos com gelo sobre as barracas.
No segundo dia (sábado, dia 08), acordamos pouco antes do sol nascer, tomamos café da manhã, fechamos acampamento e em torno das 9h iniciamos a subida ao Cume da Pedra da Mina (2.798m). Antes do meio-dia alcançamos o cume, ou seja, metade da Travessia da Serra Fina. DesnÃvel pesado e mais uma vez sofrido. Eu e mais dois do grupo estávamos bem cansados, e ficou decidido abortar a outra metade. FicarÃamos ali na Pedra da Mina para curtir o pôr do Sol e o amanhecer e descerÃamos no outro dia pelo Paiolinho. Montamos acampamento, lanchamos, e descemos ao Vale do Ruah (2.514m) para buscar água.
Se a subida é pesada, a descida segue a mesma vibe, sendo que a descida da Pedra da Mina é na rocha, o que exige mais atenção e esforço para não escorregar e cair montanha abaixo. O Vale do Ruah é formado por um capim alto e terreno de charco, e é preciso cuidado para não se perder dentro do labirinto de capim. Enchemos nossas garrafas e retornamos para Pedra da Mina, para apreciar o pôr do Sol. E que pôr do Sol! Foi gratificante estar ali depois de tanta dor e superação, apenas agradeci a Deus pela vida e por aquela oportunidade.
À noite preparamos nosso jantar, juntamos um pouco do que cada um trouxe, fizemos uma misturada e comemos sob o céu infinitamente lindo e estrelado. Com o forte vento e frio que fazia, cerca de 20h fui deitar, isso mesmo, só 'deitar', porque praticamente não dormi a noite toda com o forte vento que fazia e estremecia toda barraca.
Acordamos cedinho no terceiro dia (domingo, dia 09), para apreciar o nascer do Sol, um presente de Deus, um novo dia, uma nova oportunidade, uma benção. Fechamos acampamento, tomamos café e iniciamos nossa descida pelo Paiolinho. Eu posso falar qualquer coisa aqui, e vocês não vão ter ideia da dificuldade e sufoco nessa descida. Pouco mais de 8km de descida, desnÃvel de aproximadamente 1.197m, num misto de paredões de pedras e mais quedas e escorregões. Ainda me perdi numa bifurcação, mas retornei o percurso e achei a trilha novamente. Fui ferroada por uma abelha, e ainda caà por cima da mão e cortei o dedo, mas continuei firme e forte, a expectativa já era sem tamanho para tomar uma cerveja e almoçar feijão.
O resgate demorou cerca de 40 min para nos buscar, seguimos para Passa Quatro/MG, pegamos o carro era cerca de 15h, matamos quem estava nos matando (a fome) e seguimos para São Paulo. O trânsito quase me infarta, pois tinha de estar no aeroporto às 23h, mas os meninos conseguiram a proeza de chegarmos às 22h no aeroporto.
Resumo da Meia Travessia da Serra Fina:
Tempo Médio de Caminhada/dia: 10,5 horas
Distância Total: 28km
DesnÃvel Vertical Acumulado: 2031m
https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/meia-serra-fina-28482214
Os desnÃveis são constantes, infinitas subidas e descidas, além das escalaminhadas em rochas Ãngremes, e tudo isso com mochila pesada nas costas, haja vista a necessidade de carregar água por longos trechos. Além do calor e sol forte durante o dia, e frio intenso a noite. É uma travessia difÃcil, muito difÃcil, que requer excelente cardiorespiratório, força nas pernas e intimidade com mochila cargueira pesada.
No fim de tudo, só me restou infinita gratidão pela experiência, até o sofrimento deu mais cor e beleza a tudo. Os meninos do Trekking SP, Lenon, Will, Andy e João foram incrÃveis comigo, e só tenho a agradecer a eles pela paciência e força.
Nesse primeiro dia de trilha (sexta, dia 07), começamos a caminhar aproximadamente à s 4h. Na Toca do Lobo abastecemos nossas garrafas e seguimos 6,5km até o Capim Amarelo. Pela primeira vez na vida achei que fosse morrer, mas como sobrevivi apenas constatei que meu cardiorespiratório é um lixo, mesmo malhando, correndo e fazendo outras trilhas, ter encarado aquela subida do Capim Amarelo (2.491m) com uma mochila de aproximadamente 14kg nas costas foi a coisa mais difÃcil que fiz na vida (até aquele dia, pois o Paiolinho logo superaria esse marco). Minha pressão caiu duas vezes durante a subida, fiquei tremendo, sem conseguir dar um passo achando que ia desmaiar. O meninos ajudaram bastante, pegaram algumas coisas da minha mochila e distribuÃram o peso entre eles, mas a sensação de estar atrasando o ritmo deles só me deixava mais mal. Forcei-me a comer alguma coisa para pressão estabilizar, melhorei um pouco e perto de meio-dia alcançamos o cume do Capim Amarelo. Mas ainda teria pela frente uma descida penosa e escorregadia dentre bambuzais, onde caà 3 vezes (duas vezes com o joelho direito para trás e a perna esquerda para frente, e só Deus sabe como não quebrei ou torci nada).
No segundo dia (sábado, dia 08), acordamos pouco antes do sol nascer, tomamos café da manhã, fechamos acampamento e em torno das 9h iniciamos a subida ao Cume da Pedra da Mina (2.798m). Antes do meio-dia alcançamos o cume, ou seja, metade da Travessia da Serra Fina. DesnÃvel pesado e mais uma vez sofrido. Eu e mais dois do grupo estávamos bem cansados, e ficou decidido abortar a outra metade. FicarÃamos ali na Pedra da Mina para curtir o pôr do Sol e o amanhecer e descerÃamos no outro dia pelo Paiolinho. Montamos acampamento, lanchamos, e descemos ao Vale do Ruah (2.514m) para buscar água.
Se a subida é pesada, a descida segue a mesma vibe, sendo que a descida da Pedra da Mina é na rocha, o que exige mais atenção e esforço para não escorregar e cair montanha abaixo. O Vale do Ruah é formado por um capim alto e terreno de charco, e é preciso cuidado para não se perder dentro do labirinto de capim. Enchemos nossas garrafas e retornamos para Pedra da Mina, para apreciar o pôr do Sol. E que pôr do Sol! Foi gratificante estar ali depois de tanta dor e superação, apenas agradeci a Deus pela vida e por aquela oportunidade.
À noite preparamos nosso jantar, juntamos um pouco do que cada um trouxe, fizemos uma misturada e comemos sob o céu infinitamente lindo e estrelado. Com o forte vento e frio que fazia, cerca de 20h fui deitar, isso mesmo, só 'deitar', porque praticamente não dormi a noite toda com o forte vento que fazia e estremecia toda barraca.
Acordamos cedinho no terceiro dia (domingo, dia 09), para apreciar o nascer do Sol, um presente de Deus, um novo dia, uma nova oportunidade, uma benção. Fechamos acampamento, tomamos café e iniciamos nossa descida pelo Paiolinho. Eu posso falar qualquer coisa aqui, e vocês não vão ter ideia da dificuldade e sufoco nessa descida. Pouco mais de 8km de descida, desnÃvel de aproximadamente 1.197m, num misto de paredões de pedras e mais quedas e escorregões. Ainda me perdi numa bifurcação, mas retornei o percurso e achei a trilha novamente. Fui ferroada por uma abelha, e ainda caà por cima da mão e cortei o dedo, mas continuei firme e forte, a expectativa já era sem tamanho para tomar uma cerveja e almoçar feijão.
Conforme é possÃvel imaginar, quando chegamos no final da trilha pelo Paiolinho, no local de resgate, estávamos sedentos por comida e bebida, então, eis que um rapaz de outro grupo de SP, o Giba, tirou da mala do carro umas cervejas ainda frias e melhor do que isso, nos ofereceu. Nunca uma cerveja desceu tão redonda na história do trekking.
O resgate demorou cerca de 40 min para nos buscar, seguimos para Passa Quatro/MG, pegamos o carro era cerca de 15h, matamos quem estava nos matando (a fome) e seguimos para São Paulo. O trânsito quase me infarta, pois tinha de estar no aeroporto às 23h, mas os meninos conseguiram a proeza de chegarmos às 22h no aeroporto.
Resumo da Meia Travessia da Serra Fina:
Tempo Médio de Caminhada/dia: 10,5 horas
Distância Total: 28km
DesnÃvel Vertical Acumulado: 2031m
https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/meia-serra-fina-28482214
Os desnÃveis são constantes, infinitas subidas e descidas, além das escalaminhadas em rochas Ãngremes, e tudo isso com mochila pesada nas costas, haja vista a necessidade de carregar água por longos trechos. Além do calor e sol forte durante o dia, e frio intenso a noite. É uma travessia difÃcil, muito difÃcil, que requer excelente cardiorespiratório, força nas pernas e intimidade com mochila cargueira pesada.
No fim de tudo, só me restou infinita gratidão pela experiência, até o sofrimento deu mais cor e beleza a tudo. Os meninos do Trekking SP, Lenon, Will, Andy e João foram incrÃveis comigo, e só tenho a agradecer a eles pela paciência e força.
Só tenho a dizer que tu é muito guerreira Fabi, determinada e forte pois você passou eu descendo o paiolinho a todo vapor focada. Gratidão por tudo, valeu pela vibe positiva sua e do grupo trakking SP. Até a próxima.
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